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[Texto de Mariana Colombino]

Conseguimos ser um dos poucos sortudos a assistir Roma nos cinemas. Embora a produção seja da Netflix, ela foi disponibilizada gratuitamente em algumas salas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Diante da impecabilidade do filme, foi um presente poder assisti-lo na telona, com todo o aparato de som e imagem que ele merece.

O filme, escrito e dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, se passa numa Cidade do México de 1970 e, na minha humilde opinião, já se tornou uma obra-prima do cinema.

A história é basicamente a rotina de uma família de classe média mexicana, que é silenciosamente organizada por Cleo, empregada doméstica e babá dos quatro filhos de um casal em crise.

Ao longo das 2h15 minutos de filme, vemos o andamento da vida de seus personagens e as mudanças que cada um deles vivencia e aprende, dolorosamente, a lidar.

 

Roma foge da obviedade

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As pessoas costumam ir ao cinema à procura de arte ou entretenimento. Roma é a primeira opção. É puramente arte. Por isso, exige delicadeza para ser compreendido e apreciado na medida certa.

Diferentemente do estilo blockbuster, que tem como característica o dinamismo das sequências cinematográficas, Roma é um filme devagar, preto e branco, sem romantismo, sem planos mirabolantes, sem plot twists, sem atores com beleza padrão no elenco.

Sem todos os clichês e obviedades que os espectadores normais estão acostumados a ver.

Ele é uma história sobre a vida, retratada de maneira nua e crua. Com momentos de alegria, simplicidade, e muitos picos de verdade e tristeza.

Assistir Roma é quase como pegar um banquinho, sentar no meio da sala de estar de alguém e acompanhar, ao vivo, todos os desprazeres, frustrações e dores da vida alheia.

 

Alfonso, Cleo e Libo

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Roma é uma autobiografia do cineasta Alfonso Cuarón. A história de sua infância no bairro de classe média Roma (daí o nome do filme). Ao final das 2h15 minutos de filme, vemos nos créditos o lettering “Para Libo”, que é a verdadeira identidade por trás da personagem Cleo.

Libo trabalhou na casa dos pais de Alfonso, desde que ele tinha 9 meses de idade e, segundo o próprio diretor, “conforme ele foi ganhando maturidade, percebeu que Libo também era uma pessoa que tinha necessidades, conflitos e uma vida própria, e não era alguém que só lavava sua roupa ou preparava sua comida”.

 

Cleo é o retrato da desigualdade

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A protagonista Cleo é o retrato do México, do Brasil, da América Latina e de vários outros países emergentes. Ela mostra a realidade de tantas empregadas domésticas e babás que não têm tempo de viver suas próprias vidas, pois estão ocupadas tentando organizar, cuidar e limpar a vida dos outros.

Se vale fazer uma comparação, Cleo é a versão mexicana de Val, personagem de Regina Cazé em “Que Horas Ela Volta?”.

Cleo é mais poética e profunda, mas também se mostra muitas vezes escravizada por seus patrões, que são incapazes de tirar a mesa, lavar a louça ou preparar uma simples xícara de chá.

É uma relação casa grande senzala que incomoda, fere e causa revolta nos espectadores mais sensíveis.

 

A sensação pós-filme

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Quem vai ao cinema à procura de arte também vai à espera de sair da sessão diferente daquilo que era quando entrou. Pode ser por conta de um novo aprendizado, um sentimento despertado ou um novo questionamento criado.

Roma causa isso nos espectadores. Ele faz lindamente o papel da arte que desperta a consciência e, apenas por isso, merece ser visto, revisto e classificado como uma verdadeira obra-prima.

 

Vá além:

Encontramos uma matéria da BBC, que conta várias curiosidades sobre o filme. Se você ainda não assistiu, aconselhamos guardar o link para ler depois. 😉