MASP — Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand tem o prazer de anunciar a programação de 2023, que traz um olhar voltado às diferentes histórias indígenas ao redor do mundo.

Ao longo do ano, será apresentada uma série de atividades — exposições, cursos, palestras, oficinas e publicações — que propõem abordar e debater a complexidade de materiais, culturas, filosofias e cosmologias indígenas, além de discutir as suas representações na arte e o silêncio da história oficial da arte em relação à produção artística indígena.

Confira a programação abaixo.

PROGRAMAÇÃO

Acervo em transformação

Durante todo o ano de 2023
2o andar

A mostra de longa duração do MASP reúne obras pertencentes ao acervo do museu expostas nos icônicos cavaletes de cristal concebidos pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Com o intuito de propor novas leituras e abordagens, são realizadas constantes atualizações dos trabalhos ao longo do ano, apresentando as diversas facetas da coleção.

 

Carmézia Emiliano: árvore da vida

24.3—11.6.2023
1o subsolo
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP

Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, Normandia, Roraima, 1960) é uma artista de origem Macuxi. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, quando também começou a pintar. Suas telas figuram paisagens, objetos da cultura material e o cotidiano de sua comunidade: “Minha arte é um serviço que presto à cultura do meu povo, essa é a maior de todas as felicidades”, conta a artista. Oriunda da região fronteiriça com a Venezuela e a Guiana, perto do monte Roraima, a artista reflete, com sua obra, a profusão de detalhes espelhados, intrincados e interconectados de sua observação da natureza e da vida em comunidade.

O MASP possui em seu acervo quatro obras de Emiliano, todas comissionadas diretamente à artista no contexto de diferentes projetos desde 2019. Neste sentido, a mostra celebra a relação que o museu estabelece com a sua produção e apresenta os trabalhos mais recentes da artista, parte deles nunca antes visto pelo público. Tanto a exposição como o catálogo que a acompanha pretendem ampliar a compreensão da contribuição de sua obra no cenário artístico nacional.

O projeto se insere numa sequência de exposições que o MASP vem realizando nos últimos anos em torno de artistas autodidatas que trabalharam fora do circuito da arte contemporânea tradicional e da academia, como Agostinho Batista de Freitas (1927-1997), Maria Auxiliadora (1935-1974), Conceição dos Bugres (1914-1984) e Madalena Santos Reinbolt (1919-1977).

MAHKU: mirações

24.3—11.6.2023
2o subsolo
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP; Ibã Huni Kuin, curador convidado

A exposição MAHKU: mirações marca os dez anos do coletivo MAHKU, Movimento dos Artistas Huni Kuin. Criado oficialmente em 2013, o grupo iniciou seus trabalhos de tradução de cantos tradicionais do povo Huni Kuin em desenhos figurativos em cursos de Licenciatura Indígena na Universidade Federal do Acre (UFAC). As pinturas realizadas pelo grupo originam-se tanto de traduções e registros de cantos, mitos e histórias de sua ancestralidade como de experiências visuais geradas pelos rituais de nixi pae, que envolve a ingestão de ayahuasca, denominadas mirações – que dá título à exposição no MASP.

 

 

Sala de vídeo: Coletivo Bepunu Mebengokré

24.3—18.6.2023
2° subsolo
Curadoria: Edson Kayapó, curador-adjunto de arte indígena, MASP

O coletivo Bepunu Mebengokré, coordenado pelo jovem líder e cineasta Bepunu, tem assumido o protagonismo na apresentação das histórias e ancestralidades do povo Mebengokré para a sociedade não indígena por meio das tecnologias audiovisuais. Os caminhos percorridos pelos roteiros narrativos, bem como o foco das câmeras do coletivo, centram suas ações em cosmologias, nas relações com a floresta e na visibilidade das histórias silenciadas. A ideia do coletivo é facilitar o acesso da sociedade brasileira e da comunidade internacional às histórias dos antepassados Mebengokré, contribuindo com a efetivação dos direitos desse povo nos dias atuais e no combate ao ecocídio na Amazônia brasileira.

 

Paul Gauguin: o outro e eu 

28.4—6.8.2023
1o andar
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Fernando Oliva, curador, MASP; Laura Cosendey, curadora assistente, MASP

Paul Gauguin: o outro e eu é a primeira exposição a problematizar a relação de Gauguin com a ideia de alteridade e da exotização do “outro”. De maneira crítica, a mostra aborda problemáticas centrais em sua obra e tem como foco dois temas emblemáticos: seus autorretratos e seus trabalhos produzidos no Taiti (Polinésia Francesa), onde realizou suas pinturas mais conhecidas e passou a maior parte da última década de sua vida. Seus trabalhos desse período suscitam temas como as contestadas noções de primitivismo, um imaginário sobre o “exótico” e os “trópicos”, e apropriação cultural; além de questões relacionadas à sexualidade, androginia e erotização do corpo feminino. Paul Gauguin: o outro e eu investiga a tensão entre sua biografia, a imagem que criou de si mesmo enquanto artista, e a maneira como sua obra reforçou um imaginário sobre o “outro”. O Taiti que Gauguin representou ia além da realidade encontrada por ele, reproduzindo as fantasias que um homem europeu tinha de uma ilha paradisíaca, intocada pela “civilização” europeia. A exposição faz parte de uma série de mostras que procuram analisar, a partir de perspectivas críticas, artistas europeus canônicos presentes no acervo do MASP — que possui duas obras de Gauguin —, problematizando sua obra à luz de questões contemporâneas.

 

 

Sheroanawe Hakihiiwe

30.6—24.9.2023
1o subsolo
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP; David Ribeiro, assistente curatorial, MASP

O MASP apresenta exposição dedicada ao trabalho do artista yanomami Sheroanawe Hakihiiwe. Nascido em 1971 na comunidade indígena Sheroana, na Amazônia venezuelana, Hakihiiwe vive hoje entre Caracas e Mahekototeri, comunidade na região do alto Orinoco. Através do desenho, o artista realiza um trabalho que resgata tradições ancestrais e a arte encontrada no cotidiano de sua comunidade, presente nas pinturas corporais e em utensílios domésticos. O artista produz desenhos mínimos e abstratos, com linhas retas e curvas, pontos e formas que retomam essas referências, bem como a fauna e a flora das florestas, elaborando uma inusitada gramática visual conectada às cosmologias amazônicas. Hakihiiwe começou a produzir na década de 1990, a partir de seu encontro com a artista mexicana Laura Anderson Barbata. Juntos, desenvolveram uma técnica de produção de papel com fibras vegetais nativas — material que o artista utiliza como suporte para seus desenhos.

 

Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos

30.6—10.9.2023
2o subsolo
Curadoria: Marcia Arcuri, curadora-adjunta de arte pré-colombiana, MASP; com assistência de Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP

A exposição Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos reunirá aproximadamente 750 peças arqueológicas produzidas pelos povos ameríndios, entre os séculos 7 a.C. e 16. Os objetos testemunham o vasto legado histórico e científico construído pelas sociedades antigas do continente americano. A mostra apresenta artefatos arqueológicos atribuídos a culturas que floresceram remotamente nas regiões do Peru, Bolívia, Equador e Colômbia — tais como Chavin, Paracas, Nasca, Moche, Huari, Lambayeque, Chimu, Chancay, Inca, Calima, Tolima, Zenú, Muísca, assim como peças Marajoara, da Amazônia brasileira.

 

Sala de vídeo: Sky Hopinka 

30.6—13.8.2023
2° subsolo
Curadoria: María Inés Rodríguez , curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea

Sky Hopinka (Ho-Chunk Nation/Pechanga Band of Luiseño Indians) nasceu e cresceu em Ferndale, Washington e passou vários anos em Palm Springs e Riverside, Califórnia, Portland, Oregon e Milwaukee, Wisconsin. Em Portland, estudou e ensinou chinuk wawa, uma língua nativa da bacia do rio Columbia. Seus vídeos, fotos e textos giram em torno de sua opinião sobre a paisagem e a terra indígena.

Seu trabalho foi apresentado em vários festivais, incluindo Sundance, Toronto International Film Festival, Ann Arbor, Courtisane Festival, Punto de Vista e New York Film Festival. Sua obra fez parte do 2017 Whitney Biennial, FRONT Triennial 2018 e Prospect.5, em 2021. Foi curador convidado da Whitney Biennial 2019 e participou do Cosmopolis #2 no Centre Pompidou. Realizou uma exposição individual no Centro de Estudos Culturais, Bard College, em Nova York, em 2020, e em 2022 na LUMA em Arles, França. Recebeu o Infinity Award in Art do International Center e do Alpert Award para Filme/Vídeo, e bolsas de estudo, incluindo The Radcliffe Institute for Estudos avançados na Harvard University, Sundance Art of Nonfiction, Art Matters, The Guggenheim Foundation e O Projeto Forja. No outono de 2022, Hopinka recebeu uma bolsa MacArthur por seu trabalho como artista visual e cineasta.

 

Sala de vídeo: Brook Andrews

25.8—8.10.2023
2° subsolo
Curadoria: Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP

A partir de materiais de arquivos, que incluem fotografias dos séculos 19 e 20, filmes, desenhos animados, entrevistas e notícias, o artista e curador australiano Brook Andrew investiga as formas de representação e preservação de memória dos povos aborígenes, em especial os Wiradjuri e Ngunawal, dos quais é descendente junto a celtas e judeus. Além de discutir as opressões históricas e relações de poder desenvolvidas no processo de colonização do território australiano, Andrew interessa-se pelos fluxos culturais estabelecidos nesse período. Sua obra é marcada por um raciocínio de colagem, contrapondo documentos e cores ácidas, grafismos dos povos originários e pinturas murais, palavras na língua Wiradjuri e neons. Seus vídeos radicalizam ainda mais essa estrutura disjuntiva: utilizando edições abruptas e um tipo de linguagem de desktop, o artista contrasta os diferentes materiais coletados em suas pesquisas, criando narrativas fragmentárias que questionam apagamentos sociais, estruturas jurídicas e culturais.

 

Histórias indígenas

20.10.2023—25.2.2024
1o andar e 2o subsolo
Organizada pelo MASP em colaboração com o Kode Bergen Art Museum, Noruega
Curadoria: Edson Kayapó, curador-adjunto de arte indígena, MASP, Kassia Borges Karajá, curadora-adjunta de arte indígena, MASP, e Renata Tupinambá, curadora-adjunta de arte indígena, MASP
Curadoria convidada: Abraham Cruzvillegas (México), Irene Snarby (Sámi, Noruega), Nigel Borell (Maori, Nova Zelândia) e Sandra Gamarra (Peru), entre outros.

A grande exposição coletiva Histórias indígenas apresenta diferentes relatos de histórias indígenas do mundo, por meio da arte e das culturas visuais, reunindo obras de múltiplas mídias, tipologias, origens e períodos. Apesar do alcance internacional e da amplitude temporal da exposição, não se trata de uma abordagem abrangente, nem enciclopédica — pelo contrário. Nesse sentido, é importante levar em consideração o significado particular de “histórias” em português, que é bastante diferente do termo correspondente em inglês. O termo “histórias” engloba tanto a ficção quanto a não ficção, tanto relatos históricos quanto pessoais, de natureza pública e privada, em nível micro ou macro, e, portanto, possui uma qualidade mais polifônica, especulativa, aberta, incompleta, processual e fragmentada do que a noção tradicional de história.

 

Melissa Cody

20.10.2023—25.2.2024
1o subsolo
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora, MASP

Melissa Cody (1983, No Water Mesa, Arizona, EUA) é uma artista Navajo que pertence à quarta geração de artistas de sua família. As tecelagens de pequenas, médias e grandes proporções de Cody são feitas a partir de tradicional técnica de seu povo e transmitidas de geração em geração. Seu estilo está associado ao Germantown Revival, um movimento estilístico de tecelagem que recebeu o nome da lã que o governo de Germantown, Pensilvânia (EUA), forneceu ao povo indígena durante o episódio histórico que ficou conhecido como “Long Walk” (1864). Este episódio narra a migração forçada do povo Navajo de suas terras tradicionais no Arizona para o Novo México em uma medida adotada pelo governo dos Estados Unidos. Essa deportação impactou profundamente a noção contemporânea de identidade e território dos Navajo. Em sua obra, Cody mistura padrões e símbolos tradicionais navajo com referências desde o mundo pixelado dos computadores até universo pop, combatendo os processos que buscam fixar as culturas indígenas em um passado idílico.

Sala de vídeo: Glicéria Tupinambá e Alexandre Mortágua

20.10—3.12.2023
2° subsolo
Curadoria: Renata Tupinambá, curadora-adjunta de arte indígena, MASP

Glicéria Tupinambá é artista, ativista e educadora indígena da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. Aos 39 anos, participa intensamente da vida política e religiosa dos Tupinambá, envolvendo-se, sobretudo, em questões relacionadas à educação, à organização produtiva da aldeia, serviços sociais e direitos das mulheres. Foi indicada ao prêmio Pipa 2022 e voz ativa na ONU pelos direitos dos povos indígenas.

Alexandre Mortágua é diretor, produtor e roteirista, e aborda questões sociais em suas produções. Produz filmes para a FILMES D’O BAILE desde 2015, nos quais dirigiu longas, curtas, videoclipes e videoclipes em colaboração com artistas brasileiros e internacionais. Dirigiu o longa Todos Nós cinco milhões, sobre abandono paterno no Brasil, e em maio de 2022 lançou o livro de autoficção de contos Aqui, agora, todo mundo.

Para a Sala de vídeo, Glicéria Tupinambá e Alexandre Mortágua apresentam Quando o manto fala e o que o manto diz (2023). O filme registra o processo de Glicéria Tupinambá em reconectar-se com os saberes adormecidos de sua aldeia. O manto tupinambá ganha uma nova voz pelas mãos da artista da Serra do Padeiro.

Sala de vídeo: Cecília Vicuña

15.12.2023—28.1.2024
2° subsolo
Curadoria: Kássia Borges, curadora-adjunta de arte indígena, MASP

Cecília Vicuña Ramírez (Santiago, 22 de julho de 1948) é uma poetisa, cineasta e artista visual chilena radicada em Nova York. Seu trabalho versa sobre os temas da memória, ecologia, direitos humanos e feminismo. Em sua pesquisa, faz uma crítica ao mundo moderno e às políticas de destruição ecológica e da homogeneização cultural. Suas práticas artísticas estão ligadas às agendas do feminismo e da natureza, o que fez com que a artista tenha sido ligada ao termo ecofeminismo. Ao articular poesia, vídeo, pintura e ritual, a artista chilena resgata saberes indígenas sobre o poder das mulheres e dos saberes dos seres da floresta. Numa bricolagem entre história e mitos, Cecília cria uma obra heterogênea, pungente, real e sensível.