Houve uma época em que o hardcore era moda e todos queriam montar uma banda. A fase foi passando e várias acabaram; muitas delas justamente pela moda. Mas quem é do hardcore mesmo, se manteve firme e forte na luta e na correria.  E é o caso da excelente banda de Piracicaba, Brave As Titan (antigo Sequela Hardcore).

Formada em meados de 2000, Brave As Titan traz uma proposta agressiva, com riffs harmoniosos, vocais melódicos e rasgados, cordas e bateria de peso e velocidade, com intuito de fazer hardcore sem facções ou intermediários, e de passar uma mensagem pela qual seus integrantes vivem e se sentem a vontade para falar e agir. Além de já ter tocado com as maiores bandas de hardcore nacional, como o Dead Fish, Street bulldogs e Garage Fuzz, já tocaram com grandes nomes da cena internacional, como o Down By Law e Mute.

No final de 2013, lançaram seu primeiro disco The Silence Is Like A Cancer, apresentando 10 músicas com muito peso, velocidade e qualidade. O disco conta com a participação mais que especial de Rodrigo Lima (vocalista do Dead Fish) e já tem até o primeiro clipe, realizado pela produtora argentina Napa Films.

Homenagem do Brave As Titan para o Artescétera.

Homenagem do Brave As Titan para o Artescétera.

Brave As Titan é formado por Jean (vocal), Renan (guitarra), Caio (guitarra), Vitor (Baixo) e Bruno (bateria). E para contar um pouco mais de sua trajetória, o Artescétera realizou uma entrevista com a banda. Confira abaixo:

Obs* O videoclipe da música The Devil Doesn’t Come Out In The Rain e os sites com as músicas da banda estão no final da entrevista.

1- Conte um pouco a história da banda; como vocês se conheceram, como a banda surgiu, ex integrantes, etc.

Primeiramente, um alô aos que acompanham o Artescétera e ao grande amigo Luciano. É muito legal estar aqui conversando sobre isso entre amigos! A banda começou na escola, assim como muitas outras. Éramos os únicos “rockeiros” da turma. Eu conheci o Hissashi, que tocava guitarra e um dia a gente foi fazer um trabalho de escola na casa dele. Do nada, o cara começa a tocar todas as músicas das bandas que eu gostava. No outro dia juntamos mais três amigos que sabiam tocar; o Bubbles, o Charlie e Fuggi. Fomos pra casa do Bubbles, armamos uma bateria de panela, lata de tinta e qualquer outra coisa que lembrasse um tambor e armamos o primeiro ensaio como banda. Ainda sem nome, a gente ensaiava qualquer coisa, batia qualquer nota e com o tempo a gente começou a tocar na escola, no Sesc da cidade e em sarais, até que um dia fomos chamados para abrir o show do Dead Fish e vimos que não tínhamos músicas e nem estrutura pra isso. Ah, e nem batera ahahahah, Aí que entra o Bruno, que é o nosso batera até hoje. Aí vem toda aquela parafernalha de composição, horários, escola, shows, integrantes que precisaram sair por conta de outras responsabilidades, muita dor de cabeça, raiva e brigas hahaha. Há mais ou menos 4 ou 5 anos conhecemos o Renan por intermédio de um antigo baixista que fazia faculdade com ele. Na seqüência lançamos o EP Ações Consequentes, com 3 músicas e com o nome Sequela Hardcore. Foi aí que ganhamos o clipe de Revoluición Armada, da produtora Argentina Napa Films. Na véspera da data pra gravação nosso antigo guitarrista sumiu, não atendia celular, não respondia mensagem, não atendia interfone, aí entrou o Caio e o Lumen pra nos ajudar com o clipe e alguns shows marcados. Essa formação perdurou até o fim do ano passado. Ainda sem baixista, gravamos o clipe do single The Devil Doesn’t Come Out In The Rain, também pela Napa Films. Em seguida recebemos o convite do Guilherme Malosso (Estúdio RG) pra produzirmos um CD. Ele nos deu 3 meses para criarmos 10 novas faixas, e a gente tinha apenas alguns riffs e ideias para músicas novas. Foi um período de ensaios todos os dias possíveis da semana, trancados em estúdio discutindo as músicas. Concluímos as 10 faixas bem em cima do prazo, que são as que compõe o CD. O que muita gente não sabe é que no meio do processo, a gente ainda chamava Sequela Hardcore e também usamos letras e ideias de anos atrás. No final das gravações recebemos a noticia de que o Ghost (Vitor) estava disponível à assumir as cordas. Ele já teve banda com o Renan e o Caio na adolescência e sempre foi um grande amigo. Era o cara que a gente estava procurando. Chegou na hora certa pra fechar o time. 🙂

2- Antes a banda se chamava Sequela Hardcore. O que aconteceu para vocês mudarem o nome da banda para Brave As Titan? E qual o motivo do novo nome?

O Sequela Hardcore foi dado lá com os nossos 13, 14 anos, devido a uma queda minha de skate que resultou em 3 traumatismos cranianos. Situação bem engraçada, pra não dizer trágica. Mas aí no meio das composições para o novo disco, teve o lance do registro. Já existiam inúmeras bandas com o mesmo nome, ou no plural, ou com alguma semelhança, e também a gente viu que não combinava com o som que a gente vinha fazendo. Não soava legal com os temas das músicas. O que nos prendia ao nome era a longa jornada de 12 anos de banda; vários shows, cartazes, mídias, sites, entrevistas; foi uma mudança radical, mas que foi totalmente necessária. A única coisa que mudou foi o nome, as músicas já estavam compostas ainda como Sequela Hardcore. O nome Brave As Titan saiu de uma lista de mais de 200 nomes que cada integrante foi sugerindo. A gente usa uma linguagem bastante grega pra escrever nossas canções, usamos personagens mitológicos pra descrever boas e más pessoas e situações atuais. Prometheus é o titã que roubou o fogo do Olimpo quando Zeus privou do fogo a criação da humanidade. Pra que não dominassem o pensamento, a consciência, o poder que viria com o fogo, pra que morressem de frio, fome, e todas as outras coisas que sem o fogo seriam capazes de construir/fazer. O então valente titã é Orpheu, o cara que fazia deuses e ninfas se renderem a sua música, e após a morte de sua mulher Eurydice, desce até o submundo para barganhar com Hades, que na nossa visão são os caras mais Hardcore de toda Grécia hahahaha. O CD conta a história dos dois intercalados com cenas vividas nos dias de hoje.

3- Quais são as principais influências da banda?

A gente ouve desde o hardcore melódico californiano até o deathmetal extremo, e muita coisa além destes dois. Nossas principais influências com certeza são bandas como Protest The Hero, A Wilhelm Scream, Dead Fish, As I Lay Dying , Strung Out, Meshuggah, Endrah, Propaghandi, Comeback Kid, Belvedere, Hot Water Music e Will Sasso (rs…)

4- Agora vamos falar do disco. Por que vocês o nomearam de The Silence is Like a Cancer? (traduzindo: O silêncio é como um câncer)

Esse nome é um resumo real do CD. Como eu tinha falado sobre Prometheus e Orpheus, estes são dois personagens que se tivessem se calado, a história teria sido outra. Como diz em I Am The Mountain, a faixa 4 do disco: “E eu escrevi canções para cada silêncio ruim que se alimentava da minha alma como um câncer pra me livrar das piores pragas eu arranquei a mordaça que amarrei a minha própria boca”.  Esse é um grito para que esse silêncio ruim, da dúvida, da espera, da dor, da perda, não seja maior que o propósito de estarmos vivos. É uma analogia entre os dias de hoje e a Grécia antiga, mas que ao nosso ponto de vista, o silencio de uma verdade não dita uma atitude que poderia mudar tudo. E se você deixar, ela te mata, assim como um câncer.

BAT

5- Ele foi gravado de maneira totalmente independente ou alguma gravadora (mesmo que independente) ajudou vocês?

A gente teve a ajuda do nosso produtor, o Guilherme Malosso do Estúdio RG, que foi um grande parceiro. Sem ele, talvez a gente não tivesse tomado essa iniciativa pra tão perto. O convite para gravarmos surgiu como o mais forte e importante empurrão das nossas vidas, foi para acordar e correr atrás dos anos em que só tocávamos e não produzíamos nada. A gravação aconteceu em Americana (interior de São Paulo). Fomos hóspedes no Estúdio RG durante uns 6/7 meses até concluirmos todas as linhas de guitarra, bateria, baixo e vozes.

6- A música I am The Mountain conta com a participação especial do Rodrigo, vocalista do Dead Fish. Conte-nos como foi o convite para ele participar do disco, por que escolheram esta música para ele cantar e como foi ter a participação de um ícone do Hardcore nacional.

Porra, costumo dizer que isso foi mais do que a realização de um sonho, por que nunca imaginávamos ter esse grande nome tocando com a gente, muito menos cantando uma música que eu escrevi. Até hoje ainda soa sobrenatural. O Rodrigo é um grande cara. Além de ídolo, tem sido um grande amigo durante todos esses longos anos. Direta e indiretamente, o Dead Fish tem nos ensinado muita coisa. Desde pequeno a gente abria shows pros caras e se encontrava pra uma ideia ou outra. Um dia, em Rio Claro ou Santa Gertrudes, não me lembro ao certo, o Rodrigo me convidou pra cantar com ele “Bem-vindo ao Clube”, sem acreditar, subi no palco, cantamos juntos e foi sensacional. No fim do show, ele me perguntou sobre a banda; eu contei sobre os planos e dali surgiu a ideia de ele gravar um som com a gente. Pense num natal fora de época pra uma criança de 20 e tantos anos hahahaha. Eu ainda nem tinha ideia de qual som ele iria cantar, sem contar na responsa enorme que é compor pra quem te ensinou o que é tudo isso. Rodrigo sempre foi um mestre pra mim; caráter e sabedoria inquestionáveis. Ao longo dos ensaios para produção do disco, eu comecei a pensar e tentar encaixar o Rodrigo no contexto. Foi difícil, mas a escolha foi essa música que fala sobre um encontro entre Prometheus e Orpheus, que nunca aconteceu na mitologia mas que eu achei necessária essa união na nossa história. Para mim, os dois são grandes caras e passaram por experiências fortes em suas vidas, tanto Prometheus quanto Orpheus tiveram suas vidas difíceis, e mesmo assim correram atrás do que acreditavam, com toda dor e sofrimento. O lance de não desistir e acreditar que o bem sempre vence. São dois grandes heróis, assim como, sem demagogia, o Rodrigo é para mim, para banda e para grande parte dessa geração.

7- O clipe de vocês foi um presente da produtora argentina Napa Films. Como eles descobriram vocês?

Foi graças aos nossos grandes amigos e parceiros Caio Senicato e Leandro Carvalho. A gente ainda era Sequela Hardcore e tinha acabado de lançar o EP Ações Consequentes. O Caio ouviu, me mandou uma mensagem falando que estaria no Brasil por 20 dias e que tinha gostado da música Revolución Armada. Ele tem uma produtora em Buenos Aires, a Napa Films, e se interessou em trabalhar conosco, no caso, produzir um videoclipe. A gente topou na hora. Essa parceria já dura alguns anos e inclusive acompanhou a mudança de nome, tanto que o clipe de The Devil Doesn’t Come Out In The Rain por pouco não saiu como Sequela Hardcore, hahaha. Esse ano ainda vai sair um diário de banda sobre os shows que fizemos no começo do ano, quando eles estavam por aqui e acompanharam as datas, e também um mini-documentário sobre o cenário underground do interior paulista, e claro, esperamos logo estar lançando mais um videoclipe com os hermanos. Os Napas tem sido grandes amigos e de extrema importância  na nossa empreitada. Sem os caras a gente não sabe se teria realizados todas estas conquistas de videoclipe, CD, mídias, novos contatos e shows. Somos eternamente gratos a esses caras.

8- Qual foi o show mais memorável que vocês já fizeram e por que?

Os dois lançamentos que fizemos de Ep e CD foram sem dúvida muito importante e inesquecíveis para nós. Casa cheia, ao lado de Dead Fish e bandas de amigos. Recentemente tocamos em Piracicaba num lugar que a gente sempre quis tocar, mas que não era muito a proposta para eventos do nosso som, que é o Teatro São José, no Centro. O show foi animal, casa lotada, galera cantando junto, usando nossas camisetas, grandes amigos, energia pura! O show contou com a banda dos brothers e conterrâneos Mazzaropi Contra o Crime e os veteranos do Raimundos. Esse show pode ser descrito como impecável, desde o primeiro contato do produtor, até a ultima pessoa a sair da casa. Tudo muito bem organizado, fomos muito bem tratados por toda organização e pelo publico, a resposta foi sensacional. Colhemos ótimos frutos desse dia.

9- É muito difícil viver de arte no Brasil. Vocês tem outro trabalho além da banda? E se sim, pretendem viver só de música no futuro?

É, ainda mais com o Hardcore, né? Nossos sons não tocam na TV aberta, não são noticias nas páginas culturais e muito menos nas rádios. Até hoje as pessoas que não estão envolvidas de certa forma ainda torcem o nariz para o som que eles chamam de rock pesado, hahhahaha. Mas sim, todos nós trabalhamos além da banda e talvez sem esses trabalhos, ou melhor, com certeza sem esses trabalhos seria impossível ainda estarmos há tanto tempo tocando. É muita grana que vai, instrumento é caro, se estourar uma corda ou quebrar uma baqueta no ensaio e/ou show  também é caro. Sem falar que, com a frequência de tudo isso, os danos são ainda maiores, tanto quanto aos instrumentos quanto aos nossos bolsos hahaha. Mas esse é um sonho que a gente espera alcançar sim; viver de música seria classe A, mas estamos correndo atrás e nos intervalos de toda essa vida frenética de trabalho e responsabilidades, a gente ainda se diverte com o que faz. 😉

10- Muitas bandas, principalmente no começo, se sujeitam até a pagar pra tocar em alguns lugares. Já ocorreu essa situação com vocês? O que vocês acham disto?

Não,  felizmente não. A gente nunca pagou pra tocar, porquê desde cedo a gente sabe o quanto é custoso manter tudo em ordem pra poder chegar lá e mandar um som. Mas claro que já nos foi proposto. Muitos produtores picaretas ainda conseguem enganar uma molecada dizendo que isso é importante no começo, que vão abrir pra tal banda, que vai ter tantas pessoas, que ele os está ajudando de certa forma, mas na verdade tudo se resume em ajudar a si próprio, lotar o lugar, fazer as bandas venderem convites ou pagarem um determinado valor pra tocar. No final, quem sai ganhando é só o produtor. Estes caras deveriam ser expostos cada vez mais para que todos soubessem quem são os “bolsa-Ingresso”. As bandas que aceitam também são culpadas, causando a desvalorização do trabalho de cada um para estar no palco. O underground ainda é mal visto por quem está de fora e/ou por quem realmente está ali pra fazer o certo.

Brave As Titan

11- Com certeza ainda é muito cedo pra falar, mas já existem planos para gravar um próximo disco?

Dá até canseira ler essa ultima questão hahaha. Mas sim, estamos compondo coisas novas. Esse ano tem muita coisa por vir, a gente já tá fechando as datas pro ano todo. Estamos nos reunindo pra concretizarmos mais uma obra, mas ainda é um pouco cedo hahaha. Recentemente a gente lançou um webclipe produzido pelo grande fotografo/videomaker Rafael Graciano (SuperArt) da música Deicide. E quem quiser conferir já está em nosso canal no youtube (clique aqui para conferir) e a faixa também está disponível para download no Soundcloud, Mediafire, etc. Como costumamos dizer: Aguardem por maiores pedradas!!! (rs…).

Recado do Brave As Titan:

Ficamos muito felizes com o convite para participar desta matéria. Agradecemos imensamente pela força e o espaço, de coração. Gostaríamos de agradecer ao amigo Luciano e parabenizar pelo trampo muito bem produzido que vem sendo feito pelo Artescétera. Sucesso mano, força sempre!

E como não poderia faltar o jabá: Baixem o CD, amigos. Ouçam nossas músicas, assistam os vídeos, compareça e peça nossos shows em suas cidades, ficaremos felizes demais em tocar pra vocês! Estejam todos bem, saúde!

#WALKINGFASTER

#GOBRAVEASTITAN

Confira abaixo o clipe da música The Devil Doesn’t Come Out In The Rain e onde você pode baixar todas as músicas da banda gratuitamente. Curta a página do ARTESCÉTERA no Facebook clicando aqui. Valeu.

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