Se você perguntar para as pessoas “O que é Artes Plásticas?”, provavelmente a maioria não saberá a risca o que responder. A melhor e mais simples definição, talvez, seja “a criação de obras (esculturas / gravuras / desenhos / colagens / pinturas), utilizando diversos materiais para representar visualmente pensamentos, ideias e sentimentos”.

O estudante de Artes Plásticas, Josué Gonçalves dos Reis, 32 anos, respondeu algumas perguntas para o blog sobre como é ser artista hoje em dia no Brasil. Confira abaixo a entrevista:

1- Para muitos, tem que ser corajoso para cursar Artes Plásticas no Brasil. O que te motivou a fazer esta faculdade?

R: Estava em um período de querer voltar a estudar. Percebi que trabalhar, ir “pro rock” e encher a cara nos finais de semana não ia me levar a lugar algum, mas não me via dentro de uma faculdade fazendo o que não gostava. Assim como a maioria das mães, o sonho da minha era que eu cursasse Engenharia ou Direito, mas sempre trabalhei na indústria e sempre foi por obrigação de trabalhar, não queria passar o resto da vida sendo obrigado a fazer o que não queria. Eu já desenhava há algum tempo, tinha feito curso de desenho, e era a única coisa que fazia bem e com prazer, mas sabia que uma faculdade de artes era muito cara para o salário que eu recebia. Foi assim que entrei no cursinho e tentei por dois anos prestar faculdade pública, sem sucesso, válido apenas como soma de conhecimento. Neste meio tempo fui investir na profissão que já exercia (serralheiro), fazendo cursos voltados para indústria, com a intenção de melhorar meu salário, e foi nesse meio tempo que surgiu a oportunidade de ganhar um pouco mais e pagar uma faculdade de artes. Estou no último ano e acho que hoje não vivo sem arte. Realmente é o que eu amo. A minha faculdade não é uma das melhores no cursos de artes, mas “é o que tem pra hoje”. O meu curso é Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, duas coisas que não são muito valorizadas no Brasil: professor e arte.

2- Hoje você vê o Brasil (mercado / cultura) em ascensão, em relação as Artes Plásticas?

R: Hoje existem muitos espaços que não são ligados ao estado ou às elites para expor Arte, principalmente aqui em São Paulo, como a Choque Cultural e a Matilha, tem bastante gente fazendo graffite e vivendo disso. Mas em relação aos países da Europa, por exemplo, ainda estamos engatinhando. A Arte ainda é vista com muito preconceito e as pessoas vão levar alguns anos para diferenciar o que é arte e o que é artesanato, porque a prática de se fazer arte ainda é vista como passatempo burguês aqui no Brasil.

3- Você trabalha efetivamente com Artes Plásticas ou exerce outra profissão para sobreviver?

R: Sou serralheiro há quatorze anos e é de onde tiro a grana para manter minhas produções. Nunca ganhei nem um centavo de lucro com pintura, escultura ou música. Não quero trabalhar de serralheiro pelo resto da vida, até mesmo porque o corpo não aguenta. Essa profissão acaba com a saúde, sempre vejo companheiros sofrendo com dores.

4- Mesmo para uma pessoa que já tem dom de artista, é interessante fazer faculdade para enriquecer e expandir a visão sobre a arte?

R: Acho que “dom” não existe, em relação à Arte, mas sim a vontade de fazer, que vale mais a pena. Não adianta ter “dom” e não saber usar, para que a arte seja arte, é necessário acreditar no que se faz e investir seu tempo nisso. Conhecimento nunca é demais, mas a faculdade pode intelectualizar seu trabalho, e isso pode ajudar ou limitar o artista, aí que entra o saber usar. Aqui no Brasil, temos alguns exemplos de artistas que não cursaram o ensino básico e tem obras magníficas, como Arthur Bispo do Rosário, que foi homenageado na última Bienal, que primeiro foi considerado louco e depois artista. Ele só produziu sem saber o que realmente estava fazendo, mas produziu. Tem gente que se gradua em artes plásticas, faz pós, mestrado e todas suas produções são intencionalmente comerciais, esse pra mim passou anos estudando pra nada. A Arte é vontade e atitude de fazer. Só. A grana é fruto do trabalho, ou seja, “99% de transpiração e 1% de inspiração”.

5- Você já realizou algumas obras. O que elas dizem para você?

R: Elas falam sobre meus pensamentos mais íntimos ou períodos que estou vivendo, e que muitas vezes não consigo me expressar em palavras. Na verdade, não sou bom com as palavras, prefiro as imagens. (rs)

6- Você pretende que as pessoas entendam exatamente o que você quis retratar, ou você prefere que a sua obra seja uma obra aberta, pessoal?

R: Quando se dá título a uma obra, o espectador é levado a buscar uma relação entre o título e a imagem, quando não há o título, o espectador vai continuar buscando uma associação. Tudo isso depende da famosa intenção do artista. Nosso cérebro sempre busca uma zona de conforto. Nos últimos anos não tenho tido essa preocupação em deixar explícito a minha intenção nas obras. Gosto de deixar o diálogo livre entre a obra, espectador e artista.

7- Qual seu maior objetivo como artista?

R: Essa é de dar parafuso. Mas acho que é produzir, me comunicar com o maior número de pessoas possível, em vários lugares, e o resto é fruto do trabalho.

Abaixo, algumas das obras do Josué:

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