Mesmo que muitos não aproveitem (ou nem saibam da existência) dos entretenimentos da cidade, é inegável que São Paulo é um reduto de obras e exposições de arte. São muitos museus (você pode conferir muitos deles clicando aqui) e exposições que estão se tornando cada vez mais frequentes e visitadas.

É curioso saber que, até pouco tempo atrás, o número de pessoas que se interessava por arte era muito menor. Não estou dizendo que não haviam amantes da arte, pelo contrário, já que aqui encontra-se a maior diversidade de pessoas do país. Digo dessa repentina e crescente procura, a ponto de fazer filas enormes, que duram horas de espera.

Fila do último dia da exposição Obsessão Infinita - Instituto Tomie Ohtake

Fila do último dia da exposição Obsessão Infinita – Instituto Tomie Ohtake

 

Mas, afinal, essa procura acaba “fidelizando” as pessoas? Ou será apenas um modismo, uma fase brevemente passageira? Será que, após comparecer às exposições, as pessoas acabam se interessando mais por arte?

Este é um tema bem complexo, já que é impossível saber o que se passa na cabeça de milhões de pessoas. Isso pode ser bom ou ruim. Bom pelo fato de as pessoas se interessarem mais por arte e, consequentemente, o governo investir mais nessa área, construir museus, aumentar a demanda por empregos e tornar as exposições mais frequentes e expansivas. E ruim, caso seja realmente modismo, é que logo essa demanda de exposições diminuirá e, consequentemente, alguns lugares que “fornecem” arte podem se tornar os famosos “elefantes brancos” (lugares que acabam ficando sem utilidade). Seria (e muito) exagero dizer que a arte (e os lugares que a oferecem) seria extinta, mas que diminuiria gradativamente, isso provavelmente aconteceria.

E para falar um pouco sobre este tema, o Artescétera conversou com André Sturm, diretor executivo e curador geral do MIS (Museu da Imagem e do Som), um dos museus mais legais da cidade de São Paulo.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

 

Artescétera: Houve um aumento na procura por exposições de arte em São Paulo?

André Sturm: Posso avaliar pelo MIS. Nosso público vem crescendo a cada ano: em 2010, a instituição recebeu 61.683 visitantes; em 2011 foram 86.233, em 2012, 184.205 e 260 mil em 2013.

 

Artescétera: Se, sim, quando vocês perceberam esse aumento e por que acham que ele ocorreu?

André Sturm: A criação de novos projetos e uma programação regular, com atividades simultâneas acontecendo no museu, fez com que o nosso público crescesse a cada ano. Hoje, uma pessoa que visita o museu para uma mostra de cinema ou está matriculada em um dos nossos cursos, pode ver três exposições, duas delas gratuitas. Isso faz com que ela volte e passa a ter em mente que aqui há uma programação regular.

André Sturm - Diretor Executivo / Curador Geral - MIS

André Sturm – Diretor Executivo / Curador Geral – MIS

 

Artescétera: É possível dizer que a arte está “fidelizando” as pessoas ou será que é, apenas, algo passageiro?

André Sturm: Não acredito que seja passageiro. Gostar desta ou daquela manifestação artística é encontrar algo que lhe agrade. Sabendo do que gosta só faz com que queira conhecer mais sobre o assunto ou o que está ligado a ele. Em 2011, fizemos uma pesquisa por amostragem e mais de 70% dos visitantes nunca tinham vindo ao MIS. No primeiro trimestre de 2014, a pesquisa apontou que 55% estiveram pela primeira vez e 25% já esteve no MIS até 5 vezes. Ou seja, temos aumentado este retorno e sim, fidelizando o público.

 

Artescétera: Vocês realizam ou já realizaram pesquisas de opinião para entender melhor o comportamento/interesse das pessoas em relação à arte?

André Sturm: Realizamos pesquisas periódicas para conhecer o perfil do público que frequenta o Museu, tanto o que visita as exposições em cartaz, quanto o que participa de outras atividades como cinema, shows etc. As nossas pesquisas também medem o índice de satisfação e aprovação desse público em relação ao MIS. O caráter da pesquisa é geral, e não voltado exclusivamente para a arte.

 

Artescétera: Vocês estudam o público-alvo para fazer determinadas exposições, ou elas ocorrem por oportunidade? Como é o processo?

André Sturm: Há exposições que corremos atrás, como aconteceu com a do Kubrick, que visitei na Alemanha há alguns anos, e logo quando assumi a direção do MIS estabeleci que esta seria uma das metas da minha gestão, trazer ela para o MIS. Já com a exposição David Bowie foi uma oportunidade, quando negociava uma outra exposição com o Victoria and Albert  Museum fiquei sabendo que teriam uma mostra dedicada a ele e, sem saber o conteúdo, fechamos para que São Paulo fosse a primeira cidade a recebê-la. Além disso, quase diariamente recebo pessoas interessadas em trazer seus projetos para o MIS, muitas delas vingam.

Exposição Castelo Rá-Tim-Bum (MIS - 2014)

Exposição Castelo Rá-Tim-Bum (MIS – 2014)

 

Artescétera: O MIS é bem versátil, pois além de exposições ocorrem diversos eventos, desde musicais até exibições de filmes e feiras para artistas independentes (Feira Plana). Vocês acham que outros museus também deveriam investir nesta versatilidade, com o intuito de promover ainda mais a arte na cidade de São Paulo?

André Sturm: Felizmente, ser o museu da Imagem e do Som nos permite ter um grande leque de eventos, mas usando a criatividade qualquer instituição pode diversificar sua programação.

 

Artescétera: Vocês conseguem adquirir a verba necessária para a realização das exposições, apenas com o auxílio do governo, ou é necessário procurar iniciativas privadas/patrocínios?

André Sturm: Em algumas exposições também temos o incentivo de empresas. Em Castelo Rá-Tim-Bum – A exposição, por exemplo, três empresas investiram: Samsung, Faber-Castell e Itaú. Esse apoio nos permite elaborar exposições cada vez melhores e acessíveis, (ingressos) custando apenas R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Além disso,  as terças-feiras são gratuitas.