Hoje a coluna Filme Estranho Pra Gente Esquisita vai falar de uma comédia que foge totalmente dos padrões de qualquer outro filme do gênero. Primeiro, porque trata-se de uma história sem piadas, sem tombos e pessoas se machucando (digno das comédias pastelão), personagens que não são do estereótipo “engraçados” e a trama toda tem como fundo uma sala de apartamento (neste caso, estranho para qualquer filme). Vamos falar do filme Deus da Carnificina, do aclamado Roman Polanski.

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Deus da Carnificina é baseado na peça de teatro francês com o mesmo nome (Le Dieu du Carnage). A história é basicamente sobre dois casais que se encontram para conversar sobre seus filhos, que tiveram uma briga feia mais cedo. Polanski escolheu a dedo seus quatro protagonistas (três deles ganhadores do Oscar) e, pode se dizer, foi a escolha perfeita para os papéis. Começando pelo casal dono do apartamento e do filho que apanhou, interpretados por Jodie Foster e John C. Reilly. Ela, uma mulher justa, de esquerda, se preocupa com os animais e com a paz no mundo. Ele tem adoração pelos seus charutos e whiskys, não está nem ai para muitas coisas, ele quer ficar na dele, em paz e, por momentos, se mostra fantoche da esposa.

O outro casal (pais do garoto que bateu), interpretados por Chistoph Waltz e Kate Winslet, são a representação do poder, da elite. Ele, um advogado cínico que está defendendo uma empresa de remédios, não está nem ai para o que aconteceu, ele nem queria estar naquela reunião, já que perde seu precioso tempo de trabalho. Ela, uma mulher falsa, elegante, que se apega a bens materiais, também não é muito adepta aos valores familiares e, pelo que parece, aceitou a reunião para tentar se afirmar de algo que ela não é, uma pessoa com valores.

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Mas o que é tão estranho assim? Bom, praticamente o filme inteiro é considerado estranho e diferente pelo fato de você não entender muito bem quando começam e terminam os atos, já que o ponto forte do filme, além das interpretações impecáveis dos protagonistas, são os diálogos muito bem elaborados. Tanto que o final do filme acontece quando você nem imagina. O filme não tem um clímax, uma situação que corrobora para outra. Ele simplesmente acontece.

Outro ponto forte, são os personagens se transformando no decorrer do filme. A personagem de Foster, por exemplo, antes pacificadora, começa a criticar constantemente a personagem de Winslet. Já o marido de Foster, inicialmente um paspalhão, começa a se mostrar de saco cheio com o moralismo da esposa. Kate Winslet chega como uma pessoa amiga querendo resolver problemas e depois mostra que se importa com os apetrechos caros dentro de sua bolsa. E finalizando o time, o excelente Waltz que não está nem ai com nada e só se importa em atender o seu celular o tempo inteiro (sacada inteligentíssima) e ironizar a “bondade” de Jodie Foster. Estas transformações representam a “carnificina” do título.

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Uma curiosidade é que o filme se passa em Nova York, mas foi rodado na Europa. Polanski teve que representar um típico apartamento nova iorquino, já que o diretor não pode pisar em solo americano, devido a eterna briga judicial por conta do caso de pedofilia, ocorrido nos anos 70.

Por fim, Deus da Carnificina é um excelente filme que vale a pena ser assistido, e se possível, com muita atenção, já que a graça da trama não está em alguma ação ou situação específica, mas sim nos diálogos, detalhes e interpretações. Não deixe de acompanhar o Artescétera nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram.